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Foto do escritorGabriel Fernandes de Oliveira

A relação de amor e ódio com redes sociais

Nunca entendi direito como funcionam as redes sociais. Via a maior parte do meu circulo social usando, postando, comentando e simplesmente segui o fluxo. Comecei com o Orkut em meados de 2010, a parte divertida era responder enquetes esquisitas em comunidades engraçadas. Quando cheguei na faculdade, em 2013, fui pro Facebook, achei util pra combinar eventos, fazer parte de comunidades com interesses em comum, trocar informações e saber quando pessoas queridas faziam aniversário.


Mas nesse mesmo momento começou um mal estar. Eu ouvia as pessoas falarem do Twitter como uma zona de guerra e não tive muito interesse em participar, mas comecei a ver o Facebook se tornar algo parecido, e quando percebi passava horas discutindo polêmicas com gente que nunca vi na vida.


Hoje as redes sociais atravessam nossas vidas e relacionamentos de forma bem consolidada. O impacto varia de geração pra geração, mas em alguma medida todos temos questões com a forma que as redes sociais afetam nossas relações.


Irei apresentar alguns pontos que se repetem com uma força considerável a respeito disso na minha experiência e na minha clínica.



Introdução


"A rede social não é ruim nem boa, ela é uma ferramenta e o uso que fazemos dela pode ser bom ou ruim".


Sempre acreditei nisso, mas hoje me questiono ferramenta de quem?, nossa ou das bigtechs? Ela não é uma ferramenta inerte, neutra ou imparcial, mas, sim, com um propósito específico: captar cada vez mais e melhor, nossa atenção e e produzir cada vez mais e melhor nossa intenção de consumo. Nós somos o produto.


Se no passado o horizonte da tecnologia era facilitar o trabalho, conectar pessoas, impulsionar a inventividade, a criatividade e as inovações, democratizar o acesso a isso, hoje, o horizonte é detox de rede social, jejum de dopamina, antidepressivos, ansiolíticos e estimulantes. O que não esperávamos era a maneira eficiente e eficaz com que os interesses das grandes corporações de tecnologia e comunicação iriam se apropriar da internet e dos nossos celulares.


O amor


Canais de contato


As redes sociais possibilitaram conexões em escala global. Apesar do telefone ter rompido com essa barreira de distância antes, e a portabilidade do celular ter amplificado ainda mais o alcance dessas conexões, as redes sociais se tornaram canais de imagem.


Fazer uma vídeo conferência com familiares e amigos em outros países e acompanhar detalhes cotidianos da vida é uma experiência típica das redes sociais e que reconheço valor durante a pandemia. Foi um momento em que estávamos privados do contato social e isso permitiu que nos mantivéssemos conectados e com algum suporte emocional mínimo nessa conexão.


A possibilidade de conhecer pessoas novas, fazer amizades, construir redes a partir de interesses em comum ou até se organizar politicamente confere valor inestimável às redes sociais. Talvez o que eu mais ame nas redes sociais tem a ver com a forma que elas possibilitam e favorecem encontros fora delas. Essa me parece ser uma linha limite entre o amor e o ódio a respeito de tudo que elas se tornaram em nossa sociedade.


Acessibilidade


A popularização das redes sociais também amplificou a acessibilidade que a internet trouxe pela facilidade de compartilhar notícias, informações ou arte. Se antes da internet estávamos restritos a programas de televisão com horários específicos, bancas de jornais e revistas, visitas a museus e galerias, hoje podemos visualizar o interior da capela sistina dos nossos celulares, escolher entre centenas de canais de comunicação e streamings o que queremos ver no momento, numa quantidade tão grande de opções que basicamente não tem fim.


Para o bem e para o mal, há mais graus de liberdade de escolha e mais alcance das escolhas. Ao mesmo tempo que posso pesquisar uma receita de bolo, você pode saber qual foi a descoberta mais recente da astronomia. Se vamos depois converter essa experiência numa troca ou guardar cada um pra si, aí já começa o desafio.


Hoje tenho o poder de compartilhar a forma que cuido das minhas plantas e trocar dicas com quem também tem cuidados pra compartilhar em qualquer lugar do mundo. Essa era a promessa do uso ideal da internet e que existe hoje, embora esbarramos em outros obstáculos.


As redes permitiram que o jornalista independente, o pequeno artista ou o blogueiro (!) compartilhassem suas informações, artes e noticias com qualquer pessoa em qualquer lugar do mundo em tempo real. É importante reconhecer que essa acessibilidade trouxe também novos problemas como a falta de regulamentação dessas informações ocasionando em ocorrência de crimes e propagação de fakenews mas isso não exclui a possibilidade de acesso e conexão que as redes trouxeram.


A internet é um local público e como qualquer outro local publico precisa de uma legislação que garanta nossa liberdade de circulação e ocupação desse espaço.


O amor é a parte curta, vamos ao ódio.


O ódio


Sociedade virtual - conectados e solitários


A uberização do trabalho representa um dos efeitos de alienação do trabalho que o virtual traz. A facilidade que temos de pedir comida hoje faz com que, aos poucos, invisibilizamos o trabalho que envolve produzir e transportar o alimento, acreditando que de fato aquele dinheiro pago corresponde de forma justa ao trabalho necessário para a comida chegar até nós. O que chegou como facilidade do virtual se tornou alienação sobre os processos produtivos.


Ao mesmo tempo as relações sociais foram se equiparando a um modelo de produção e consumo virtual. Hoje as trocas sociais acontecem em boa parte como trocas virtuais de curtidas, fotos, e textos cada vez mais curtos, ou de preferência ausentes. Escrevemos menos e lemos menos, dá trabalho e não corresponde ao modo de vida acelerado da modernidade.


Toda produção discursiva que enlaça os sujeitos e traz a sensação de pertencimento, reconhecimento e amor é cada vez mais podada, até sobrar o superficial.

No sentido mesmo de superfície, daquilo que está por cima, da imagem. O resultado é uma experiência subjetiva que de um lado pode receber milhares de curtidas e visualizações e ainda assim se sentir só e sem reconhecimento, e do outro lado a falta de curtidas e visualizações, traz o sentimento de solidão e não pertencimento.


Se por um lado a conectividade das redes permitiu a interação com pessoas de todo o mundo com maior facilidade e velocidade, ao mesmo tempo parece que trouxe uma dificuldade específica de interação com as pessoas ao nosso lado, no sentido da dificuldade e velocidade própria das relações humanas.


A cena de entrar em qualquer lugar e ver todas as pessoas em silêncio olhando para as telas de seus gadgets e raramente olhando umas para as outras ficou mais comum. Interagir com a tela parece mais interessante que interagir com qualquer coisa fora dela.


É fácil cair numa ilusão de que há contato social suficiente para nossas necessidades enquanto estamos conectados em rede. Como se acompanhar imagens e sons das pessoas pudesse sanar em parte o que só a presença física traz. A presença física permite canais de afeto que correspondem a necessidades humanas básicas, como um toque, um abraço, um olhar... em suma compartilhar a experiência num determinado espaço e tempo em comum.


Tenho suspeitas de que após a pandemia, acreditamos que conseguimos, sim, viver de forma isolada e conectada como um modo de vida suficiente. Normalizamos o isolamento social prolongado sem perceber que é um isolamento, pela ilusão de que o contato virtual substitui o contato presencial, tornando isso um estilo de vida recluso e voltado pro mundo visto pela janela. (.Hikikomori.)


Quanto mais voltamos a atenção pra nossa experiência virtual personalizada, menos voltamos a atenção pra nossa experiência social comum. Isso faz dessa experiência virtual algo que traz prejuízos graves para o indivíduo e para sociedade, tais como a baixíssima tolerância aos perrengues da vida coletiva, aos conflitos, às diferenças e uma menor disposição ao trabalho micro político necessário para convivermos em grupo.


"Não gostei do que fulano disse, nunca mais quero ver essa pessoa na vida."


E assim vai se montando uma bolha monocromática, sustentada pelo viés digital de cada um, até que acreditemos na mentira de que é possível uma vida sem conflitos, já que quem traz o conflito é o outro, o estrangeiro, o estranho...


Quem nos apresenta a nós mesmos é o outro, principalmente onde o outro é diferente / divergente. A vida personalizada na tela, que promete criar um mundo perfeito pra habitarmos (diferente do mundo real) acaba nos privando de questionar qual é nosso lugar no mundo real, tragados pelo mundo do meta-verso digital.


Comparação e insatisfação


Se antes, ao viajar, a experiência compartilhada entre os presentes é o que tinha valor, hoje é a experiência compartilhada na rede que tem valor. Tem valor monetário de publicidade (vide o trabalho de influencers), mas também tem valor social de mostrar certo estilo de vida que corresponde a certo padrão de consumo. A ostentação nas redes sociais viraliza por um lado e adoece do outro que corresponde a grande maioria da população que não terá acesso a esse estilo de vida luxuoso mas agora, com a facilidade do acesso as informações, convive com uma realidade desigual e injusta cotidianamente, fomentando a ilusões sobre uma meritocracia que permitiria alcançar essa experiência.


Vamos perdendo a referência da nossa história, do mundo que habitamos e essa referência vai sendo colocada em pessoas que nunca vimos na vida e que não conhecemos a realidade que as construiu, afinal sequer concebemos a possibilidade de realidades históricas construírem alguém e oferecer condições de vida específicas.


Tem gente que acredita que está mais perto de se tornar um bilionário do que um refugiado climático, justamente por não perceber o lugar social que a construiu e consequentemente não ver diferença entre o lugar social que construiu um bilionário. Estamos no país que tem um gasto anual de 24 bilhões em apostas (https://www.cnnbrasil.com.br/blogs/pedro-duran/economia/macroeconomia/brasileiros-perdem-r-24-bilhoes-em-apostas-online-por-ano-projeta-itau/), o sonho de a qualquer momento magicamente ter a vida luxuosa dos sonhos a ponto de se endividar para isso, tem a ver com essa lógica.


Posso estar feliz de ter conseguido um emprego bom, que me dá condições dignas de trabalho e permite que eu aproveite meu tempo livre com as pessoas que eu amo. Mas no momento em que vejo outra pessoa ostentando um carro melhor, uma casa maior, suas viagens caras, seu relacionamento perfeito, seu corpo dos sonhos... Parece que tudo que eu construí é pouco, insatisfatório, insuficiente.


Os ideais de perfeição, satisfação e completude viralizam em todas as redes sociais. Pra cada coisa que aprendemos a valorizar na nossa vida existe alguém postando como ela tem isso mais e melhor. Quanto mais vivemos no ambiente virtual, mais entendemos o mundo com esse que o algoritmo nos traz e menos com o que vivemos, considerando as pessoas na nossa vida, o ambiente cultural e social que nos construiu, enfim, nossa propria realidade.


Aos poucos nossa autoestima vai se baseando cada vez mais em ideais inalcançáveis de pessoas que vivem em outros mundos e menos nos ideais que construímos no nosso mundo. Não é atoa que haja uma busca voraz por autenticidade pela geração Z, afinal é difícil reconhecer o que valorizamos quando o que é valorizado é dado pronto na internet e independe de nossa história, nossa identidade e nosso desejo.


Quem decide o que é valorizado e serve de referencial pra autoestima é o algoritmo e o número de likes e visualizações. As redes de alguma forma parecem retirar nossa capacidade de invenção e criação de algo novo e nos conformar com que é dado, e repetir o que já foi feito.


A direção de uma análise envolve o esvaziamento de ideais fálicos


Reféns do algoritmo


Quantas vezes numa relação comercial após apresentarmos uma queixa, o atendente diz "infelizmente foi um erro de sistema, não podemos fazer nada sobre isso. O sistema é assim"? Há uma homologia dessa cena com o algoritmo.


O algoritmo aprende com nossos cliques, visualizações, e até nossas hesitações sobre o que mais desejamos ver e consumir. O algoritmo de cada rede social orienta como deve ser o conteúdo produzido ali para que alcance o desejado engajamento.


Mesmo que haja um esforço de nossa parte para o consumo consciente do conteúdo, é sempre um esforço de nadar contra a maré do algoritmo, pois no final ele é quem decide o que vamos consumir e consequentemente o que vai nos influenciar.


Apesar desse caráter personalista, o algoritmo tende a repetir os padrões hegemônicos expressos no seu banco de dados. Se há preconceito de raça, gênero e classe em uma sociedade que consome conteúdos online, o algoritmo aprende que essas são interpretações em maior quantidade e que devem corresponder a verdade.


Algumas empresas precisam expor seus algoritmos a diversos testes para eliminar esses vieses nocivos a sociedade antes que colocá-los em prática, mas é um movimento constante e enquanto ele ainda não se aperfeiçoa estamos sendo influenciados ainda mais por esses vieses nocivos.


"O eu não é senhor em sua própria morada" Sigmund Freud

A revelação do inconsciente pela psicanálise trouxe uma das feridas narcísicas da humanidade, acreditávamos que a consciência é quem melhor diz quem somos, que nos confere poder e capacidade de decidir racionalmente nosso destino, mas na verdade a maior parte está nas ações automáticas que realizamos e nem percebemos, são essas que comandam nossas vidas.


A partir dessa crença de que escolhemos o conteúdo que vamos consumir, que estamos no controle dessas decisões, do tempo que destinamos a viver no celular e na forma como o que estamos consumindo nos molda, o algoritmo se aproveita pra brincar com nossos desejos inconscientes e nos mostrar aquilo que desejamos mas nem sabíamos.


A partir do funcionamento do algoritmo, tendemos a receber conteúdos cada vez mais intensos a partir de nossas preferências. Se uma briga foi algo que prendeu nossa atenção, o algoritmo sugere brigas cada vez mais violentas. Se uma pessoa sofrendo chamou a atenção, o algoritmo sugere pessoas sofrendo cada vez mais pra chamar ainda mais nossa atenção.


Mesmo escrevendo isso e sabendo disso, não fico isento de um conflito interno toda vez que estou navegando pelas redes sociais, sabendo que o que aparece pra mim está lutando pra manter minha atenção ao máximo e, do lado de cá, estou resistindo pra pensar o que de fato quero consumir e como realmente quero usar meu tempo. É natural que certas emoções prendam nossa atenção, nem por isso quer dizer que faz sentido pra mim viver uma vida consumindo cenas cada vez mais violentas e tristes.


Até que ponto utilizamos as redes sociais e até que ponto somos usados por elas?


Agressividade e intolerância


As redes sociais também são áreas de circulação de discursos de ódio, ofensas, comentários agressivos e violentos em todas direções. A X (antigo twitter) era o palco principal onde, não importa o que você compartilhe, sempre vai ter alguém com um julgamento moral apontando falhas e criticando você e seu posicionamento.


Comportamento de massa


Em Psicologia das massas e análise do eu (1921), Freud descreve os processos de formação de grupos e seus efeitos, sendo um deles um sentimento de aprovação do grupo que serve como um estimulante pra ter qualquer atitude. Se ofendo e sou aplaudido (ou recebo curtidas), lanço uma ofensa maior, se tenho aprovação, aumento ainda mais, escalono pra violência e conforme o grupo legitima minhas ações suspendo a capacidade crítica a respeito delas


Isso é facilmente observável em redes sociais. Desde as eleições presidenciais de 2014, a cada nova eleição multiplicavam-se as discussões e conflitos nas redes sociais assim como as ofensas gratuitas e julgamentos morais. Nas eleições de 2018 a pauta moral ganhou visibilidade, não estávamos mais discutindo emprego, educação, saúde e meio ambiente, mas sim orientação sexual, identidade de gênero, aborto, consumo de maconha apenas no aspecto moralizante desses tópicos. Foi difícil mudar o discurso em 2022 mesmo com a clara necessidade de um governo que priorizasse pautas de interesse comum, como a saúde, já que a a sociedade estava voltada pra pautas morais.


Um uma discussão moral, qualquer pessoa tem opinião, qualquer pessoa tem espaço pra comentar, e qualquer pessoa pode receber muitos likes e aprovação social a partir disso. É próprio do humano a busca por pertencer a um grupo e receber reconhecimento social, e isso foi sendo usado contra a própria sociedade produzindo uma dificuldade de reconhecer interesses em comum e uma facilidade de reconhecer conflitos sem solução, portanto com escalonamento infinito de agressividade.


Uma discussão científica está mais interessada na produção de uma verdade consensual, que seja comum, do que numa divisão moral sem solução. Talvez isso tenha contribuído para uma desvalorização da educação, afinal é dificil receber likes defendendo que não é qualquer opinião que tem o valor de verdade, que buscar a verdade é um caminho difícil, penoso e pode não receber likes no final, muito pelo contrário.


Anonimato


Outro ponto considerável é o nível de anonimato por trás de uma publicação. O maior exemplo são os perfis fakes que, via de regra, tecem os comentários mais ofensivos e violentos. Num contexto onde nossas ações são ligadas a nossa pessoa, contamos com alguns elementos inibidores da agressividade, afinal experimentamos as consequências do ato agressivo, tanto no agressor quanto no agredido.


O mundo virtual permite que nos distanciemos desses inibidores, não vemos a pessoa que lê o comentário chorar, e muitas vezes quem lê nosso comentário não convive com a gente nem nos conhece. A agressividade pela tela parece sem consequências negativas, quase como se não envolvesse pessoas reais, mas com consequências positivas quando recebe o apoio por meio de curtidas e comentários.


Temos um sistema que recompensa e não pune a agressividade, e que quando há uma contra-resposta agressiva em defesa, ela gera mais agressividade. A cereja do bolo é que agressividade viraliza, posts que envolvem discussão, brigas e barracos, prendem a atenção do usuário e ganham mais alcance.


Pressa


As redes sociais incentivam a pressa e desestimulam a paciência. Um tempo atrás era mais comum a ocorrência do "textão" que eram basicamente desabafos ou a elaboração de uma linha argumentativa num texto maior que o convencional, hoje raramente vejo isso. Raramente vejo textos mesmo curtos.


Vídeos curtos são o modelo de maior viralização atualmente, representam o sucesso da rede tiktok. Daria pra escrever um texto só pra falar dos efeitos dessa aceleração do tempo que as redes propiciam em nossas vidas, mas aqui vou trazer o efeito dessa aceleração na agressividade. Se em muitas situações, ao sentir irritação, podemos nos dar um tempo pra respirar fundo, contar até 10 e depois agir com um pouco mais de calma, nas redes sociais não dá tempo. A velocidade é tanta que os comentários são impulsivos, muita gente se dá conta do que disse depois de um tempo que sua fala já circulou e acaba apagando o comentário.


Posta primeiro, pensa depois.


A irritação e a raiva exageradas tem uma relação direta com a impulsividade e a pressa em expressar uma emoção muitas vezes mal elaborada. Ao mesmo tempo, a possibilidade de pular um vídeo que trouxe o menor desconforto ou não está trazendo o máximo de prazer no momento, nos torna intolerantes quanto a suportar emoções negativas.


Longe de dizer que temos que aprender a aguentar calados, mas suportar uma emoção negativa é importante para compreendê-la melhor, e então decidir o que fazer com ela. Sem esse tempo para compreender, facilmente ficamos reféns de emoções negativas, evitando qualquer uma delas. Acreditamos novamente no mundo monocromático e sem conflitos, porque ao menor sinal de conflito, afastamos ou tentamos resolver de uma vez num único comentário furioso.


Liberdade de expressão


A internet é um local público e aberto e assim como todo local público precisa de leis que regulamentem a convivência nesses espaços justamente pra dar maior liberdade. Quanto mais rigorosas as leis contra assédio sexual, por exemplo, mais liberdade as pessoas tem de transitar sem medo de sofrer assédio por ter algum amparo e segurança na lei. Um lugar sem leis, onde qualquer um pode fazer o que quiser, é menos livre por estarmos sujeitos a todo tipo de crime e violência. É o que acontece nas redes sociais. As pessoas se habituaram tanto com a violência e a criminalidade que, quando são aplicadas as medidas penais e administrativas pra fazer a lei valer, elas sentem sua liberdade retirada como se o interesse fosse a liberdade pra ir contra a lei, pra cometer crimes.


Chega a ser cômico a revolta das pessoas com o banimento da rede social X no Brasil alegando que acabou a liberdade de expressão quando consideramos os pontos que apresentei nesse texto. Além de ser um espaço publico, as redes sociais facilmente se tornam um espaço hostil e que convida a circulação da parte menos sociável das pessoas, por não corresponder plenamente ao que seria uma socialização saudável. É um espaço onde é urgente que a legislação acompanhe o que a ciência tem mostrado sobre os perigos e efeitos nocivos das redes sociais.


Sugestões


  1. Moby & The Void Pacific Choir - 'Are You Lost In The World Like Me?' https://www.youtube.com/watch?v=VASywEuqFd8

  2. O dilema das redes sociais - Documentário Netflix (2020) https://www.netflix.com/br/title/81254224

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