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Foto do escritorGabriel Fernandes de Oliveira

Masculinidade tóxica: Competitividade, Vulnerabilidade e Agressividade

Atualizado: 7 de abr. de 2022

As vezes falada como masculinidade frágil, esse texto fala sobre o conjunto de regras, pressões e ideais que homens são educados para seguir, ceder e atingir, mesmo que isso custe sua saúde mental e das pessoas a sua volta, a partir da minha leitura desse fenômeno



Noto um padrão tanto nas histórias de sofrimento que os homens trazem para a clínica, quanto no sofrimento que outras pessoas dizem ter sido causado por algum homem. Apesar de cada história ser única, refletir sobre esses temas se mostrou útil e transformador para essas pessoas, então quero te convidar para essa reflexão também.

Esses temas estão relacionados entre si, primeiro vou falar sobre cada um deles e depois sobre a relação de um com o outro.


Competitividade


Vivemos numa sociedade competitiva, isso não é único dos homens. Mas homens são estimulados a competir o tempo todo pelas coisas mais aleatórias possíveis. Os desejos de sair por cima de qualquer situação e de medir seu desempenho constantemente constroem uma forte insegurança que faz o homem evitar situações em que pode "sair perdendo". Homens acabam se tornando experts em identificar competições imaginárias em diversas situações, e sentir satisfação ao ganhá-las ou frustração ao perdê-las. É curioso que essa competitividade aparece mais em relações de homens com outro homens...


Vulnerabilidade


Talvez esse seja o tema central. Homens mostram certo pavor a possibilidade de se enxergarem como fracos e vulneráveis. Essa fraqueza pode ser percebida de diversas formas: mudar de opinião, admitir um erro, demonstrar interesse, preocupação, tristeza, dor, dúvida, medo, dificuldade, sensibilidade e as vezes, até alegria. Todas essas experiências humanas parecem deixar o homem com a ideia de que foi atingido, que está exposto, que perdeu. Há algo que faz ser mais desejável ser um homem idealizado que um ser humano idealizado. E esse homem idealizado se parece com alguém frio, calculista, racional, inatingível e sem emoções, quase uma máquina.


Agressividade


Essa é a ferramenta aceita por outros homens para lidar com a vulnerabilidade. Aqui sempre me vem a imagem de um animal maltratado, faminto e acuado. Ainda que nos aproximamos apenas querendo ajudar, somos atacados porque ele está se defendendo, com medo. Crescer em ambientes de competição por todo lado, faz o homem viver acuado e tentando se defender, mesmo quando não há ataque. Escuto muito homens confusos por sentir que não tem o controle da raiva, por explodir, sentir culpa mas não saber como pode fazer diferente. A emoção mais aceita nas normas da masculinidade tóxica é a raiva. Ou você demonstra estar no controle, sem emoções, ou você demonstra estar com raiva. Isso cria um padrão em que toda situação de descontrole se traduz numa situação de raiva, e, conforme essa emoção aumenta, mais a vontade uma pessoa se sente em ser agressiva.


Como elas se relacionam


Proponho um exercício de memória e imaginação sobre alguns momentos de nossa vida.


Já viu homens que combinam um jogo de truco, videogame ou uma partida de futebol principalmente para ofender uns aos outros? Em algumas dessas situações até parece que mais importante que ganhar é demonstrar raiva, descontentamento e indignação para o outro, e faz sentido se pensarmos que são as emoções mais "permitidas". Nessas situações ainda podemos ver a agressividade e a competitividade quando um homem compete com outro pra ver quem fala mais alto.


Já viu homens competindo pra ver quem se importa menos com alguma coisa? Aqui misturamos a competitividade com a fuga da vulnerabilidade. Quem mais se parecer com uma máquina, mais está cumprindo seu "papel de homem".


Já viu alguém tentando conversar com um homem sobre o que ele sente? Ele fica agressivo, levanta a voz e entra num modo de atacar primeiro pra se defender.


Já viu um homem ignorando completamente um problema que não consegue resolver, pra não correr o risco de falhar? Ou já viu um homem acreditando que aquilo que consegue resolver, é responsabilidade unicamente sua e tem que fazer tudo sozinho sem "demonstrar fraqueza" e pedir ajuda?


Já viu um homem responsabilizando tudo e todos sobre algo que é próprio dele para não ter que encarar uma responsabilidade que acredita não dar conta?

Todas essas atitudes podem levar sofrimento ao homem e as pessoas a sua volta, e todas elas falam sobre a construção social de um modelo de masculinidade incompatível com uma vida saudável nos dias de hoje.


Considerações finais



Toda pessoa que se identifica como homem ou interage com está sujeita a enfrentar essas questões que mencionei. Talvez nosso desafio enquanto homens seja buscar ser um ser humano melhor e não apenas um homem melhor. Seres humanos choram, erram, falham, tropeçam, sentem fraqueza, dor, medo, solidão, precisam de afeto, abraço, carinho de outro ser humano, seja do gênero que for.


É importante ter um espaço onde podemos ser humanos na presença de outra pessoa. Algumas pessoas tem relações de confiança que são suficientes pra isso outras precisam da ajuda de um profissional. A terapia pode ser um espaço seguro para ser humano.


Há dois documentários que recomendo fortemente sobre esse tema:


- The Mask You Live In (A máscara em que você vive) https://www.youtube.com/watch?v=I1OI9B0VSlA

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